Segundo Guerra (2001), vivemos numa época de ênfase na informação, com a presença das revistas, telejornais e internet, onde é preciso estar sempre informados. Mas é importante lembrar que informação não é conhecimento. O conhecimento envolve o estabelecimento de relações entre informações isoladas. Se pensarmos neste sentido, muito do que é chamado do conhecimento escolar é apenas informação, desconectada: conceitos vazios, para serem memorizados e esquecidos. A informação é descartável, justamente por não ter vínculos nem com outras informações, nem com conhecimento, mas, sobretudo, por não termos com ela vínculos emocionais.
Seguindo alguns princípios de Piaget (1975), a criança, deve ter um determinado tempo adequado para gozar a sua infância, ter um período ideal para entrada na escola e começar a partir daí a ser alfabetizada, ou seja, ela deve alcançar e obter certo grau mínimo de maturidade para então, envolver-se com atribuições de maior responsabilidade.
Sabemos que pelo fato de uma criança olhar e manipular um computador pode levá-la a ter certo impacto num primeiro momento, levando em alguns casos a alterações no quadro psicológico, pois o tratamento é feito com a máquina através de um processo mecanicista e artificial e não através do relacionamento com outros seres humanos. Nossa preocupação em propor e executar todas as técnicas viáveis de aprendizado com as crianças conhecidas tradicionalmente até aqui, visa influenciar sua imaginação, coordenação motora e criatividade.
Entretanto, devemos participar deste avanço tecnológico com a sociedade em geral e também utilizar essas tecnologias com as crianças, afinal esta é a realidade no século XXI. É claro que a utilização deste equipamento (computador) não deve, em hipótese alguma, ser utilizado como um fim em si mesmo, mas sim como uma ferramenta auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, despertando desta maneira algum tipo de interesse maior na questão do conhecimento.
Pesquisas realizadas em escolas que se utilizam da informática como método de ensino, percebem que o processo de aprendizagem é efetuado de uma maneira simples e fácil, levando a criança a aprender brincando. Nestas escolas especificamente, o processo de aprendizagem é acompanhado de perto por uma equipe de psicólogos e pedagogos, que analisam todo o processo de aprendizagem de seus estudantes, embora com o advento e uso cada vez maior da internet, o feedback desse acompanhamento possa se tornar mais difícil.
Na obra, A Linguagem e o pensamento da criança (1923), Piaget coloca que, o raciocínio infantil não é nem dedutivo nem indutivo, pois, do este vai do particular ao particular porque, o juízo não é lógico por ser centrado no sujeito, em suas experiências passadas e nas relações subjetivas que ele estabelece em função das mesmas. Os desejos, as motivações e todas as características conscientes, morais e afetivas são atribuídas às coisas (animismo). A criança na fase dos dois aos quatro anos de idade pensa, por exemplo, que o cão late porque está com saudades da mãe. Por outro lado, crianças entre os cinco ou sete anos de idade, os processos psicológicos internos têm realidade física: ela acha que os pensamentos estão na boca e que os sonhos estão no quarto. Dessa confusão entre o real e o irreal, surge a explicação segundo a qual, se as coisas existem é porque alguém as fez.
Notando a forma como a criança faz a ligação entre as relações é que muitos educadores, descartam a ideia do uso do computador no processo educativo, além de haver muitos psicólogos que afirmam que o uso do computador no processo educativo nas séries iniciais seja prejudicial, pois nessa fase a criança necessita desenvolver a socialização com o meio e o grupo social ao qual ela pertence e o computador torna as relações artificiais, levando em conta aplicativos como o Messenger e o Orkut.
O raciocínio e a socialização na fase adulta já estão desenvolvidos, por isso o comportamento desses indivíduos diante dessa nova realidade não causa consequências negativas ao seu processo educativo e social, ainda que, como muitos psicólogos já observaram em casos de pacientes e a própria mídia relata vários casos de alterações no comportamento social e emocional, causando fuga da realidade e inversão de valores.
Para Paulo Freire, o uso da tecnologia, não devia ser realizado de qualquer modo ou sem a devida preparação. Podemos até dizer que ele delineou uma metodologia de uso e análise para todo tipo de tecnologia que venha a ser incorporada:
É preciso identificar o que fundamenta práticas e usos tecnológicos, para combatê-las ou mesmo reverter seu uso para as causas a que se defende. E isso é extremamente importante porque até a construção de softwares, páginas da web ou aplicativos são baseadas numa certa concepção de mundo, de homem ou de ensino e aprendizagem.
Também se referia à necessidade de se compreender, controlar e dominar a tecnologia. Freire (1977, p.129), parafraseando Harry Braverman em Labor and Monopoly Capital – The degradation of work in the twentieth century, defendia que, para se usar os aparatos tecnológicos, era preciso compreender a sua razão de ser. Os trabalhadores não podem ser alienados quanto ao uso, como se fossem máquinas irracionais. Não podem ser máquinas que somente realizam movimentos repetitivos, sem a mínima noção do que fazem ou do que produzem trabalhadores hiper-especialistas.
Para Paulo Freire, entender o processo era de fundamental importância porque conduziria os homens à humanização, deslocando-se de uma concepção de meio como suporte, para a ideia de mundo, passível de transformação, para assim, evitar a sua “maquinização” ou animalização instintiva dos seres humanos. E ainda afirma:
Quando se diz ao educador como fazer tecnicamente uma mesa e não se discute as dimensões estéticas de como fazê-la, castra-se a capacidade de ele conhecer a curiosidade epistemológica (FREIRE; PASSETI, 1994-1995, p.87).
As inovações tecnológicas têm sido impostas de cima para baixo ou de fora para dentro, caracterizando uma verdadeira invasão cultural (FREIRE, 1976, p. 24).
Para ele, a tecnologia além de ser compreendida, dominada, deve ser contextualizada - contextualizar a tecnologia em si própria, sua gênese e utilização, desvelando os interesses e a ideologia implícita, os benefícios e as limitações do uso, em seguida, identificá-la com o contexto local, discutindo suas implicações na vida dos usuários ativos e a melhor forma de incorporá-la para o bem daquele grupo naquele contexto. Freire defende que nossa atitude deve ser “curiosa, indagadora, crítica e vigilante”, e que devemos sempre refleti-la, atitude que se deve assumir diante da tecnologia.
O que me parece fundamental para nós, hoje, mecânicos ou físicos, pedagogos ou pedreiros, marceneiros ou biólogos é a assunção de uma posição crítica, vigilante, indagadora, em face da tecnologia. Nem, de um lado, demonologizá-la, nem, de outro, divinizá-la. (FREIRE, 1992, p. 133).
Devemos ser conscientes e usar a tecnologia e não ser usados ou manipulados docilmente como objetos por ela, pois pode ser usada para manipular e estar a serviço de uma concepção de mundo que não é emancipadora, por isso não poder ser objetos de comunicados ou consumidores ávidos de pacotes tecnológicos.
Referindo-se à televisão, insiste que “devemos usá-la, sobretudo, discuti-la” (FREIRE, 1996a, p. 51-52).
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